Cuidadores

Devo esforçar-me mais como cuidador informal?

“Devo esforçar-me mais como cuidador informal?” Diariamente, milhares de cuidadores informais colocam-se essa pergunta (confesso que eu também coloco-me muitas vezes esta pergunta), e respondendo-se que sim a si próprios ainda pensam como hão-de o fazer no meio de tantas tarefas e responsabilidades que já têm, esquecendo-se deles próprios. Mas será que esforçar-se ainda mais nos cuidados aos nossos familiares é mesmo uma mais valia? Vamos descobrir neste artigo.

O início de tudo…
Quando recebemos o diagnóstico de uma doença que torna o nosso ente querido dependente, uma chuva de perguntas inunda a nossa cabeça: “E agora o que fazer?”, “Como posso ajudar?”, “Como vou organizar-me para dar conta do recado?”. E depois, começamos a cuidar do nosso familiar, a tentar fazer tudo na perfeição na ânsia de aliviar o seu sofrimento e de ajudá-lo simplesmente. Olhamos com atenção e intervimos em todos os aspetos da vida da pessoa doente: a sua alimentação, a sua higiene, o seu descanso, o seu tempo de lazer, etc. Pressionamo-nos muito e quando não conseguimos fazer tudo o que tínhamos planeado na nossa cabeça: culpabilizamos. Por conseguinte, esforçamo-nos ainda mais. Constantemente ao ponto de esquecermo-nos dos nossos limites e das nossas próprias necessidades.

Não se preocupe, é perfeitamente normal.

 

Esforçar-se sim mas não a qualquer preço…

Como disse anteriormente, sentir-se mal porque não conseguimos fazer tudo e esforçar-se ainda mais para melhorar a nossa prestação de cuidador é perfeitamente normal, no entanto, não pode ser a qualquer preço. Isto é, este esforço não pode nem deve ser à custa da nossa própria saúde. Esforçar-se demasiado, além das nossas próprias necessidades e limites pode levar-nos à exaustão e ao burnout. Cuidar à custa da nossa saúde está fora de questão. A nossa saúde deve ser a nossa prioridade acima de todas as outras prioridades que possam existir ou surgir. Cuidar de nós próprios antes de cuidar do nosso familiar deve ser o nosso lema.

 

Cuidar de mim sim mas como? No meio de tantos afazeres…

Respeitando sempre estas duas regras de ouro:
1_ Conhecer, respeitar e fazer respeitar os seus próprios limites e necessidades;
2_ Definir prioridades.

Ao seguir estas simples regras, evitará muitos problemas de saúde. Por exemplo:
_ Precisa de ir urinar: vai, o copo de água que o seu familiar pediu pode esperar um pouco. Ao não reter a urina muito tempo poderá evitar infeções e pedras nos rins (cálculos renais);
_ Precisa de defecar: vai, não faz mal se o almoço/jantar atrasar um pouco. Assim evitará problemas de obstipação (prisão de ventre);
_ Precisa de 5 minutos para acalmar ou relaxar: vai, nem que seja apanhar ar na varanda ou no quintal da sua casa. Deste modo, afasta a possibilidade de desenvolver um burnout e/ou uma depressão.  Não irá acontecer nada de grave se o banho/duche do seu familiar for adiado uns minutos.
_ Necessita de descansar um pouco: descansa nem que seja meia hora. Não faz mal se a cozinha não estiver um brinco neste dia. E assim, repõe um pouco as energias, minimiza a ansiedade e irritabilidade, por conseguinte, há menor risco de responder/apoiar o seu familiar de forma agressiva.
_ Etc.

E se a culpabilidade bater à porta?

É normal sentir-se culpado/a por não conseguir fazer tudo ou não conseguir fazer algo tão bem quanto gostaríamos mas isso não nos deve impedir de cuidar-nos. Uma boa estratégia para lidar com o sentimento de culpabilidade quando bate à porta é estar consciente e lembrar-se que não somos de ferro nem somos robôs ou super-heróis. Sempre que precisar descansa e peça ajuda sempre que sentir necessidade. Somos apenas seres humanos com qualidades, defeitos, limites e necessidades. Não precisamos de ser perfeitos nem a nossa prestação de cuidados. Aliás, é impossível. Ninguém, absolutamente ninguém consegue fazer tudo e tudo na perfeição. E quem diz que consegue, mente. Faz o que puder dentro dos seus limites e será perfeito na sua imperfeição.

Finalmente, respondendo à pergunta “Devo esforçar-me mais como cuidador informal?”

Depende. Se é para melhorar a realização dos cuidados essenciais/vitais da pessoa dependente então sim. Mas se este esforço extra é para a realização de cuidados não essenciais/não vitais e/ou que possam prejudicar a própria saúde do cuidador informal então a minha resposta é não. Se se tratar de cuidados essenciais/vitais e que um esforço extra da sua parte possa pôr em causa a sua saúde, o melhor a fazer é pedir ajuda a familiares, amigos, vizinhos ou profissionais/serviços como, por exemplo, os nossos serviços de apoio ao cuidador informal (clica aqui) ou psicólogos, médicos, serviços de apoio domiciliário, entre outros.

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